O que há para além de uma caixa?

por Laís Soler e Roberlânia Moura

Como escola que se orienta pelas postulações de Maria Montessori, a preparação do ambiente que receberá as crianças nos cotidianos tecidos pela Upiá é o primeiro e, talvez, um dos mais importantes movimentos que antecedem o brincar. E é assim que a caixa surge cheia de intencionalidade pelas salas da escola.

As crianças se aproximam da caixa curiosas: o que seria aquela novidade colocada bem no meio da sala? A aproximação é sem receios: a caixa, sem muitas apresentações, vira berço, que vira carro, que vira canoa, que vira trem, que vira fogão e um avião para uma viagem rápida a Porto Alegre ou ao Laranjal. E, assim, sua composição permite que a cada dia ela seja instrumento de um enredo diferente.

Mas é possível brincar em uma ou com uma caixa? Ela provavelmente não tenha o apelo visual de cores de um brinquedo industrializado, por exemplo, e por suas características simples é que se dá a mágica da brincadeira não-estruturada: a imaginação, que desafia, diverte e torna qualquer material de brincar muito mais interessante. A potencialidade criativa que um material oferece àquele que brinca é proporcional à sua simplicidade. Não é preciso que venha imbuído de sugestões para que haja brincadeira, ela acontece naturalmente!

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O brinquedo é apenas um meio para o brincar; não possui conteúdo imaginário, ainda que possa sugerir enredos. O conteúdo imaginário está com aquele que brinca e, em especial, na criança que possui como linguagem primeira o brincar. Qualquer material transforma-se nas mãos de uma criança. Há ainda a potencialidade de exploração, sensorial, espacial e lógica, dos materiais oferecidos. Você já ouviu o som e sentiu a trepidação que a caixa faz quando a pintamos rapidamente com giz de cera?

Quando deixamos a nossa imaginação livre, surge uma lista enorme de opções divertidas para interagir com as crianças e nesta nova forma de brincar, aliás, elas são as autoras mais criativas e mais espontâneas. Brincar é a linguagem da criança. Quando brinca, ela aprende, se desenvolve, movimenta, cria e experiencia os sabores e texturas do entorno que descobre e desbrava nos cotidianos dos espaços que percorre em sua primeira infância.

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Nesta fase de isolamento social, precisamos ter alguns cuidados extras para que a brincadeira seja apenas mais um momento feliz. Cabe salientar que as caixas utilizadas devem ser as que já estejam dentro de nossas residências pelo menos há quinze dias. Os estudos sobre o período que o corona vírus permanece vivo em cada tipo de material e superfície ainda estão em desenvolvimento, portanto, é necessário ainda mais cuidado com os objetos que levamos para dentro de nossas casas. Desta forma, a preocupação dará lugar apenas as novas possibilidades de entrar no mundo da imaginação e descobrir o quanto é divertido brincar com caixas.

O que as crianças andam dizendo é poesia II

Criamos uma poema com as respostas das famílias, da pergunta: “o que as crianças andam dizendo por aí?” Assim, exercitando a escrita poética e explorando o vocabulário e diálogos infantis, podemos registrar pérolas e complexidades levantadas pelas crianças. Olha só como ficou nosso poema:

hoje vamos ficar em casa

hoje não vamos pra rua
hoje vamos ficar em casa

tem muitas coisas pra fazer aqui
a gente tem língua pra falar
e bunda pra soltar pum
e boca pra dizer eu te amo

hoje não vamos pra rua
hoje vamos ficar em casa

porque aqui tem lua
porque aqui a gente se abraça
porque estamos juntos na nossa casa

hoje não vamos pra rua
hoje vamos ficar em casa

então na hora do banho
encha um baldinho com água
brinque e também limpe o ranho

hoje não vamos pra rua
hoje vamos ficar em casa

se sentir muita saudade
se tudo estiver sem gosto
lembre que gosto de você
com um sorriso no rosto

hoje não vamos pra rua
hoje vamos ficar em casa

criança tem tudo em casa
meu brinquedo preferido
meu pão que caiu no chão
minha pereba no umbigo

então
meu amor,

hoje não vamos pra rua
hoje vamos ficar em casa.

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O que achou?

Compartilhe poemas e diálogos das crianças por aqui, vamos admirar o que há de mais poético e artístico na infância.

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O que as crianças andam dizendo é poesia

As crianças são ótimas com as palavras e composições, que podem ser divertidas ou esdrúxulas. Podemos aproveitar esses dias em casa para anotar frases, perguntas e palavras ditas por elas e criar poemas a partir disso. É divertido de fazer, além de ser uma forma de registrarmos as gracinhas que elas falam e, especialmente, as memórias afetivas da sua infância.

Fizemos um poema para inspirar vocês a ler e escrever poesias.

a melhor coisa do mundo
é ter tempo pra ficar em casa
com quem amamos como sorvete
e que leia poesia pra gente

pode ser numa barraca mágica
pode ser no sofá da sala
pode também se imaginar na Guatemala

E escolhemos três poemas do livro Poemas com macarrão, do poeta Fabrício Corsaletti, como sugestão de leitura com as crianças. Vocês conhecem este livro? Nós conhecemos agora e adoramos. Logo ele entrará para o acervo da escola.

Boa leitura!

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Imagem: acervo Escola Upiá.

Canção do vento e da argila

venta nos galhos das árvores
e nos braços de Camila
me digam se estou maluco
mas vento é que nem argila

ganha a forma que quiser
vira bicho e vira planta
o vento e a argila podem
ser um coqueiro ou uma anta

a argila, a gente ajuda
a achar o destino certo
o vento sopra sozinho
sobre as tendas do deserto

vento é a alma das coisas
argila é a coisa em si
argila fica parada
vento não está mais aqui

Imagem: acervo Escola Upiá.

Balada do chinelo

sou amigo da Joana
sou amigo do Marcelo
um bovino adolescente
é chamado de vitelo
antigamente morria
muita gente nos duelos
não tinha água encanada
naqueles lindos castelos
como é bom ficar em casa
descalço ou só de chinelo!

quando crescer, quero muito
poder usar um martelo
para ajudar minha mãe
a pendurar quadros belos
entender a diferença
entre uma faca e um cutelo
deixar o jardim tinindo
com um reluzente castelo
e vou fazer tudo isso
descalço ou só de chinelo

que a boa sorte me livre
de torcer meu tornozelo
dizem que dóis pra caramba
mesmo se colocar gelo
num sovaco sou careca
mas no outro tenho pelo
meu sonho: andar no Saara
na corcova de um camelo
depois, no hotel, relaxar
descalço ou só de chinelo

há tantas coisas no mundo
Japão, balão, cogumelo!
viver de papo pro ar
descalço ou só de chinelo

Imagem: acervo Escola Upiá.

Fabrício Corsaletti, Cia. das Letrinhas Brasil, 2018
https://www.companhiadasletras.com.br

Primavera de Formações

Na Escola Upiá, o mês de novembro veio acompanhado de formações e reflexões acerca da docência e debates no âmbito da educação infantil. Tivemos formações sobre práticas e métodos Montessorianos. Participamos de eventos e conhecemos outras realidades escolares, assim como a escola Ipê Amarelo (Santa Maria), Escola Projeto e Amigos do Verde (Porto Alegre). A equipe também participou de palestras e formações de teóricos e teóricas do campo da educação. Gandhy Piorski e José Pacheco foram os principais.

Seguimos sonhando com uma escola para e com a infância.

Formação e piquenique da equipe: Debates sobre práticas e metódos Montessorianos. (Pelotas)
Ipê Amarelo: Uma história compartilhada de educação e formação de professores na UFSM: 50 anos. (Santa Maria)
Curso sobre escolas em transição com José Pacheco (Caçapava do Sul)
A criança e a linguagem do imaginar: Gandhy Piorski. (Porto Alegre)
Escola Amigos do Verde – Porto Alegre
Escola Projeto – Porto Alegre